sábado, 16 de outubro de 2010

2ª Parte: Por que não vivemos para sempre?

POR QUE ENVELHECEMOS ASSIM
A teoria é mais bem compreendida considerando os desafi os que as células dos organismos complexos enfrentam enquanto tentam sobreviver. Elas são danifi cadas o tempo todo – o DNA tem mutações, as proteínas sofrem danos, moléculas altamente reativas chamadas radicais livres rompem as membranas e a lista segue. A vida depende da cópia e tradução constante dos dados genéticos, e sabemos que o maquinário celular que lida com todas essas coisas, por melhor que seja, não é perfeito. Considerando todos esses desafi os, a imortalidade da linhagem genética impressiona.

As células vivas funcionam sob constante ameaça de quebra, e a linhagem não fi ca imune. A razão por que ela não se extingue em uma catástrofe de erros tem a ver, por um lado, com seus mecanismos altamente sofi sticados de manutenção e reparos e, por outro, com sua capacidade de se livrar dos erros mais sérios por meio de rodadas contínuas de competição. Os espermatozoides são produzidos em quantidades excessivas; normalmente, apenas um deles consegue fertilizar o óvulo. As células que originam os óvulos são produzidas em números muito maiores do que podem ser liberadas; um rigoroso controle de qualidade elimina aquelas que não forem boas o bastante. E, fi nal mente, se erros passarem por todos esses testes, a seleção natural dá a última palavra sobre quais indivíduos são mais aptos a transmitir seus genes às gerações futuras.

Após o feito aparentemente milagroso de gerar um corpo inteiro a partir de uma única célula – o óvulo fertilizado –, deveria ser relativamente simples sua manutenção indefi nida, como o evolucionista americano George Williams apontou. Realmente, para alguns organismos pluricelulares, a ausência de envelhecimento parece ser a regra. A hidra de água doce, por exemplo, mostra um poder de sobrevivência impressionante. Aparentemente não envelhece, já que não mostra aumento de mortalidade ou decréscimo de fertilidade ao longo do tempo, assim como parece capaz de regenerar todo um corpo novo a partir de um pequeno fragmento se for cortada em pedaços. O segredo de sua juventude eterna é o fato de seu corpo ser permeado de células germinativas. Se elas estão em toda parte, não surpreende que um indivíduo possa sobreviver indefi nidamente se não for vítima de danos ou predadores.

Na maioria dos animais multicelulares, no entanto, a linhagem genética é encontrada apenas no tecido das gônadas, onde espermatozóides e óvulos são formados. Esse arranjo tem muitas vantagens. Durante a longa história da evolução, permitiu que outros tipos de células se especializassem – células nervosas, musculares, hepáticas, entre outras necessárias para o desenvolvimento de qualquer organismo complexo, um Triceratops ou um humano.

A divisão de trabalho teve consequências duradouras sobre o envelhecimento e a expectativa de vida dos organismos. Assim que as células especializadas deixaram o papel de continuar a espécie, também abandonaram qualquer necessidade de imortalidade; elas poderiam morrer depois que o corpo passasse seu legado genético para a próxima geração.

Então, por quanto tempo essas células especializadas podem viver? Em outras palavras, por quanto tempo nós e outros organismos complexos podemos viver? A resposta para qualquer espécie tem relação com as ameaças ambientais enfrentadas por seus antecessores enquanto evoluíam e com os custos energéticos da manutenção do corpo em boas condições de operação.

A grande maioria dos organismos morre relativamente jovem por causa de acidentes, predação, infecção ou fome. Ratos selvagens, por exemplo, estão à mercê de um ambiente muito perigoso. Eles são mortos rapidamente – é raro chegarem ao primeiro aniversário. Os morcegos, por outro lado, estão mais seguros porque podem voar.

Enquanto isso, a manutenção do corpo é custosa e os recursos costumam ser limitados. De todo o consumo de energia, uma parte pode ir para o crescimento, outra para os trabalhos físicos e para o movimento e outra para a reprodução. Um pouco dessa energia, no entanto, pode ser armazenada sob a forma de gordura para proteção contra a fome, mas boa parte dela é consumida apenas para reparar os inúmeros danos que surgem a cada segundo de vida do organismo. Outra parte desses escassos recursos vai para a conferência do código genético envolvido na síntese contínua de novas proteínas e moléculas essenciais. E outra ainda movimenta os mecanismos de eliminação de dejetos celulares, ávidos por energia.

EVOLUÇÃO POR ADAPTAÇÃO
é aqui que a teoria do soma dispensável entra: ela afi rma que, assim como o fabricante humano de qualquer produto – um carro ou um casaco, por exemplo – espécies que evoluem têm de fazer adaptações. Não compensa investir na possibilidade de sobreviver indefinidamente se o ambiente talvez traga a morte em um intervalo de tempo previsível. Para que a espécie sobreviva, seu genoma deve basicamente manter um organismo em boa forma e permitir-lhe se reproduzir com sucesso nesse intervalo de tempo.

Em todas as fases da vida, até o seu fi m, o corpo faz o máximo para se manter vivo – em outras palavras, não é programado para o envelhecimento e a morte, mas para a sobrevivência. Mas, sob a intensa pressão da seleção natural, as espécies acabam priorizando o investimento em crescimento e reprodução – a perpetuação da espécie – em vez da construção de um corpo que possa durar para sempre. Então o envelhecimento é provocado pelo acúmulo gradual durante a vida de diversas formas de danos celulares e moleculares não reparados.

PODEMOS RETARDAR O PROCESSO DE ENVELHECER? Ninguém sabe ainda como desacelerar o envelhecimento. Mas a pesquisa básica do processo pode render drogas para a longevidade. Alguns compostos podem mexer com o metabolismo celular (uso de energia) para imitar os benefícios vistos em animais; outros podem mudar a forma como as células danifi cadas se comportam.EM FORMA E COM VIDA LONGA: Certas terapias poderiam redirecionar o metabolismo celular, fazendo a balança pender para o lado das funções de manutenção e reparo em vez de reprodução, mantendo assim os órgãos saudáveis por mais tempo. A restrição calórica aumenta a longevidade média das moscas, vermes e ratos quando comparados a animais submetidos a uma dieta normal (gráfi co). Ainda não está claro se isso funcionaria em humanos
Nenhum programa biológico, então, defi ne precisamente a hora de morrer, mas há cada vez mais evidências sugerindo que, apesar disso, alguns genes possam infl uenciar o quanto vivemos. Tom Johnson e Michael Klass, trabalhando com vermes nematoides, descobriram um gene com esse efeito sobre a longevidade nos anos 80. A mutação de um gene que os pesquisadores denominaram age-1 produziu um aumento de 40% no tempo de vida. Desde então, pesquisadores de muitos laboratórios encontraram vários outros genes capazes de aumentar o tempo de vida dos nematoides, e mutações similares apareceram em outros animais, das moscas-das-frutas até os ratos.

Esses genes costumam alterar o metabolismo de um organismo, a forma como ele usa a energia para suas funções corporais. É comum os pesquisadores descobrirem como os genes desempenham funções nos caminhos de sinalização da insulina, essenciais à regulação metabólica. As cascatas de interações moleculares que constituem esses caminhos mudam os níveis gerais de atividade de literalmente centenas de outros genes responsáveis pelo controle de todos os intrincados processos responsáveis pela manutenção e o reparo das células. De fato, parece que o alongamento do tempo de vida requer a mudança exatamente desses processos que protegem o corpo contra o acúmulo de danos.

A quantidade de comida disponível também interfere no metabolismo. Já na década de 30, pesquisadores descobriram que ratos de laboratório que comiam menos viviam mais. Mais uma vez, a modulação do metabolismo parece ter efeito sobre a taxa de acúmulo de danos, porque os ratos sujeitos a restrição diária aumentam a atividade de uma gama de sistemas de manutenção e reparos. À primeira vista, pode parecer estranho que um animal com pouca alimentação gaste mais, e não menos, energia na manutenção corporal. Um período de fome é, no entanto, um momento ruim para a reprodução e evidências apontam que nesses períodos alguns animais “desligam” sua fertilidade, liberando uma grande fração de sua energia para a manutenção celular.

Cristóvão Colombo descobriu a América. FALSO !

Ele foi o primeiro europeu a chegar ao Novo Mundo e revelou aos homens de seu tempo a existência de um continente até então desconhecido. Certo? Errado!

 Antoine Roullet é professor de história, membro da Casa de Velázquez e doutorando em história moderna pela Universidade Paris IV-Sorbonne

Embora tenha aberto caminho para a conquista
 do continente, Colombo não foi o primeiro estrangeiro a
aportar na América
 Oficialmente, o título de “descobridor da América” pertence ao navegante genovês Cristóvão Colombo, mas ele não foi o primeiro estrangeiro a chegar ao chamado Novo Mundo. Além disso, o próprio Colombo nunca se deu conta de que a terra que encontrou era um continente até então desconhecido.

A arqueologia já revelou vestígios da passagem dos vikings pelo continente por volta do ano 1000. Leif Ericson, explorador que viveu na região da Islândia, chegou às margens do atual estado de Maine, no norte dos Estados Unidos, no ano 1003. Em 1010 foi a vez de outro aventureiro nórdico, Bjarn Karlsefni, aportar nos arredores de Long Island, na região de Nova York. Além disso, alguns pesquisadores defendem que um almirante chinês chamado Zeng He teria cruzado o Pacífico e desembarcado, em 1421, no que hoje é a costa leste dos Estados Unidos.

Polêmicas à parte, Cristóvão Colombo jamais se deu conta de que havia descoberto um novo continente. A leitura de suas anotações de bordo ou de suas cartas deixa claro que ele acreditou até a morte que tinha chegado à China ou ao Japão, ou seja, às “Índias”. É o que o navegador escreveu, por exemplo, em uma carta de março de 1493.

Mesmo nos momentos em que se apresenta como um “descobridor”, Colombo se refere aos arredores de um continente que o célebre Marco Polo – do qual foi leitor assíduo – já havia descrito. Em outubro de 1492, depois de seu primeiro encontro com nativos americanos, o explorador fez a seguinte anotação em seu diário de bordo: “Resolvi descer à terra firme e ir à cidade de Guisay entregar as cartas de Vossas Altezas ao Grande Khan”. Guisay é uma cidade real chinesa que Marco Polo visitara. Nesse mesmo documento, Colombo escreveu que, segundo o que os índios haviam informado, ele estava a caminho do Japão. Os nativos tinham apontado, na verdade, para Cuba.


Suas certezas foram parcialmente abaladas nas viagens seguintes, mas o navegador nunca chegou a pensar que aportara em um novo continente. Sua quarta viagem o teria levado, segundo escreveu, à província de “Mago”, “fronteiriça à de Catayo”, ambas na China.

Apesar disso, Colombo revestiu seus relatos com um tom profético. “Estou convencido de que se trata do paraíso terrestre”, disse a respeito da foz do rio Orinoco, no território das atuais Colômbia e Venezuela. Quando voltou à Europa, ele chegou a redigir um “livro de profecias”, no qual juntou citações bíblicas a textos de cosmografia e de profetas medievais numa tentativa de, aparentemente, relacionar o Novo Mundo aos reinos míticos de Társis e Ofir, citados no Antigo Testamento. A obra não chegou a ser terminada.

Somente nos últimos anos de sua vida o genovês considerou a possibilidade de ter descoberto terras realmente virgens. Mas foi necessário certo tempo para que a existência de um novo continente começasse a ser aceita pelos europeus. Américo Vespúcio foi um dos primeiros a apresentar um mapa com quatro continentes. Mais tarde, em 1507, a nova terra seria batizada em homenagem ao explorador italiano. Um ano depois da morte de Colombo, que passou a vida sem entender bem o que havia encontrado.